Ela estava internada, um câncer a consumia. Eu nada podia fazer, eu só orava. Me chamaram para doar sangue, ela necessitava. Pedi ao meu supervisor que me deixasse ir, era recém-contratada e trabalhava em um setor de recursos humanos dentro de um hospital.
Engraçado que ninguém me contou que eu não poderia doar sangue. Foi como uma providência divina, uma despedida agendada com hora marcada. Lá fui eu correndo atender à chamada.
A recepcionista do setor do banco de sangue me perguntou: "Você foi vacinada nos últimos 15 dias?" "Sim!", respondi. "Sinto muito, Josie, não poderá doar sangue."
Uma irritação me tomou, e pensei ter ido à toa ali. Quando já estava na porta de saída, uma voz me dizia: "Vai ver sua mãe!" Eu já sabia que não poderia, não era horário de visita. Insisti em sair... A voz me dizia: "Vai ver sua mãe!" Voltei!
Perguntei à recepcionista: "Moça, posso ver Marivalva?" Ela me disse: "Infelizmente, não é horário de visita." Então, eu, sem pensar, respondi: "Me deixe vê-la, pode ser o último dia!" A moça, comovida, me passou o crachá de acesso restrito e me deixou subir.
Ao chegar na porta da sala, ela sorriu e disse: "Filha, ainda bem que você passou aqui! Eu precisava falar com você; mamãe vai operar amanhã e eu não vou voltar mais!" Nesse instante, eu senti a leveza, a paz que ela sentia, mas questionei: "Que assunto é esse, dona Mara? Você não pode decidir o que não está no seu controle!"
Retrucou a voz de sabedoria: "Não está no meu controle, mas eu bem sei. Quero te fazer um pedido, minha filha: Cuide do seu irmão, você já está com a vida feita!" Me deixa te dar um cheiro; "você tem cheiro de rosas", ela sempre me dizia isso. Eu chorava e abraçava minha mãezinha!
Atrasada para o retorno ao trabalho, me despedi com o coração dilacerado. Ao chegar na porta, ela disse: "Filha, estendeu uma das mãos e pronunciou: 'Eu te abençoo'". Respondi: "Amém, mainha". Esse dia foi o último que ouvi sua voz, senti seu abraço e beijei suas mãos.
Recebi as bênçãos da mulher que me gerou e ensinou a ser resiliente através da sua jornada aqui na terra, me mostrou o valor da simplicidade e a fazer o bem sem olhar a quem! Ela me deu o cheiro das rosas, me alimentou com o amor materno e me protegeu da forma que pôde!
Esse texto eternizo em palavras aqui no Recanto para deixar a memória da minha "Marina, Marina morena, você se pintou" (autoria de Dorival Caymmi), música que eu cantava para ela desde os 8 anos de idade. Ela adorava.
Mainha, eu já te disse o quanto eu te amava; escolho dizer novamente em memória desse texto. Você se pintou e me deixou cheirosa para sempre com o aroma das rosas que só você sentia. Amo-te até a eternidade.